A tentativa de achatar a curva através do isolamento social, realizada em vários países e inclusive no Brasil, fez com que bilhões de cidadão ficassem reclusos em suas casas em suas famílias ou outros moradores que compartilham o mesmo espaço em regime de quarentena.
Enquanto em alguns lares a convivência pode ser extremamente pacífica e de apoio mútuo, noutros alguns problemas podem emergir, contribuindo para situações desconfortáveis, aumento da ansiedade e do estresse e até mesmo para o surgimento de feridas emocionais.
Nessas horas, o grande questionamento é: como manter uma convivência pacífica com meus familiares ou outras pessoas que estão convivendo comigo durante a quarentena?
Liberdade e respeito: dois grande norteadores
Sem dúvidas, estas duas palavras são há séculos os maiores desejos dos seres humanos tanto no convívio social aberto quanto em suas casas. É preciso ter em mente que a sua liberdade não é irrestrita, o limite dela vai até onde começa a liberdade do outro. Nessa margem, deve haver o reconhecimento desse limite e também o respeito para com o outro. Uma boa forma de equilibrar esses dois pontos é através da disciplina e do estabelecimento claro do que lhe agrada e do que não.
No entanto, sabemos que nem todas as pessoas estão dispostas a levar esses acordos a sério e, com isso, entra outro ponto muito importante: como eu vou reagir se me sentir tolhido ou desrespeitado frente a situações neste convívio obrigatório de quarentena?
Tenha em mente o que você pode fazer para evitar situações conflituosas. Até que ponto você pode ceder e conceder e a partir da onde sua liberdade começa a ser invadida? É importante lembrar que nessas horas não há certo ou errado, apenas combinações, sejam elas explícitas ou implícitas.
Ruídos e organização: os principais problemas
Tanto no convívio familiar durante a quarentena quanto no de casas compartilhadas com pessoas sem parentesco, esses dois pontos são os que mais costumam causar intrigas. Seja por ver programas de tv em um volume muito alto, músicas que não agradam os ouvidos do outro ou bagunças na cozinha, este é um excelente momento para treinar a empatia. Pense: o que eu não gostaria que fizessem comigo, não farei para o outro.
Também nisto, entra a reflexão do tópico anterior: acordos e disciplina. Cada um pode ser responsabilizado pela sua própria louça, por exemplo e alguns horários podem ser estabelecidos para limitação de ruídos. O importante é deixar tudo bem às claras.
Conflitos e oportunidades para crescimento
Existem muitos lares com problemas de relacionamento e que a convivência pacífica não é, nem de longe, uma realidade. Mesmo assim, existe a oportunidade dada por esse momento de quarentena de uma reflexão interior profunda, sobre as nossas próprias atitudes em relação a nós mesmos e aos outros. Muitas vezes aquilo que mais nos incomoda no outro é fruto do reflexo de algo em mim que precisa ser melhorado.
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Afetos em tempos de isolamento social: uma reflexão profunda
É importante sairmos da visão egóica que muitas vezes assumimos, nos colocando sempre como vítimas de determinadas situações e pensando no coletivo: o que posso fazer, em mim, para resolver essa situação? Quando é o momento de interferir e quando o de tirar o time de campo? Como estou me posicionando de forma efetiva?
O que queremos dizer com isso é que sabemos que para muitas pessoas este não será um momento fácil no que tange à questão do convívio. No entanto, acaba por ser um momento precioso para mudanças de comportamento que almejamos há algum tempo.
Falar do que sentimos para o outro é extremamente importante. Mas infelizmente, tendemos muitas vezes a expressar esse sentimento em forma de acusação da atitude do outro. Isso faz com que a pessoa que você conversa se arme, queira se defender e não te escute. Ao invés de acusar, seja humilde, baixe a guarda e fale sobre o seu sentimento. Uma acusação sempre será contestada por quem a recebe, mas o sentimento é somente seu e as pessoas não têm o direito de depreciá-lo.
Uma oportunidade para inovar nas relações
A quarentena pode ser o momento perfeito para tentar novas formas de relacionamento e de atitudes afetivas. Até porque conflitos antigos não podem ser resolvidos com as mesmas atitudes. Muitas dessas novas formas vêm do olhar atento às necessidades do outro. É importante escutar o que o outro tem a dizer, observar as suas atitudes e pensar antes de agir.
Talvez seus filhos estejam fazendo muita bagunça, pois querem um pouco da sua atenção de uma forma diferente, de uma maneira inusitada. Procure ouvir o que eles têm a dizer e trabalhe no diálogo apurado e na conversa sensível.
A introspecção pode ser a chave para o caminho da empatia
Aproveitar a quarentena para ter momentos de introspecção pode lhe dar bom material de trabalho sobre seus próprios sentimentos e ajudar você a ser mais empático em relação ao outro. Da mesma forma que você toma atitudes que muitas vezes não entende, o outro também pode agir da mesma forma. Os seres humanos precisam do apoio um do outro para melhorarem. A introspecção é necessária para refinarmos nossos sentimentos, e a empatia, para melhorarmos nossas relações e visões de mundo.
Lidar consigo mesmo nem sempre é fácil e, para isso, você pode contar com a ajuda de um profissional de saúde mental, que lhe ajudará a ‘desembolar’ seus próprios pensamentos e sentimentos. Não tenha vergonha de falar de si, reconhecer seus erros e pedir ajuda sempre que necessário. Enquanto o outro não muda, não podemos ficar parados: a mudança para a melhor convivência começa em nós.