O mês de maio é marcado pela Luta Antimanicomial, um movimento importante para a defesa de tratamentos justos e dignos para pessoas com problemas de saúde mental, que defende a valorização do fator humano e a importância da dignidade.
Para que você entenda um pouco melhor sobre essa data importante, elaboramos esse artigo para você saber mais sobre o movimento.
A origem da reforma do sistema de saúde mental
O responsável pelo início da origem da reforma do sistema de saúde mental foi o psiquiatra Franco Basaglia. Nascido em Veneza, durante os anos 60 foi o diretor do Hospital Psiquiátrico de Gorizia, onde presenciou diversos abusos no tratamento de problemas mentais.
Por esse motivo, Basaglia resolveu fazer mudanças nas práticas no tratamento dos pacientes. Esse movimento ficou conhecido como “negação à psiquiatria”, responsável por dar origem à luta antimanicomial.
Franco percebeu que a internação em manicômios e o isolamento só agravavam ainda mais a condição dos pacientes. Em razão disso, seria preciso mudar totalmente a estrutura psiquiátrica que até então era conhecida.
Assim, o tratamento manicomial deveria ser através atendimentos terapêuticos, que poderiam ser realizados em centros de convivências, comunitários ou até em ambulatórios. Basaglia revolucionou ao propor que o paciente não fosse mais tratado como objeto, sem direitos enquanto humano e cidadão.
Em 1968, ele publicou o livro “A instituição Negada”, onde revelou uma grande parte das suas estratégias que foram feitas no Hospital Psiquiátrico de Gorizia. Depois de feita a reformulação no tratamento psiquiátrico, Basaglia ficou responsável por dirigir o Hospital Psiquiátrico de Trieste, que se tornou referência na luta antimanicomial.
No entanto, apenas em 1978 foi aprovada, na Itália, a Lei da Reforma Italiana, conhecida como Lei 180, que serviu como modelo para a reformulação do sistema Psiquiátrico no Brasil.
A Luta Antimanicomial no Brasil
No final da década 70, diversos movimentos relacionados à saúde mental fizeram denúncias de abusos que eram feitos em instituições psiquiátricas. A partir disso, nasceram vários movimentos de profissionais da saúde mental que evidenciaram a necessidade de uma reforma psiquiátrica no Brasil.
Um dos principais responsáveis pela iniciativa foi o Movimento Sanitário e o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, que tinha a participação populacional e de familiares de pacientes.
Apenas em 18 de maio de 1987 foi realizado um encontro com grupos coniventes às políticas antimanicomiais. Inclusive, foi nesse mesmo encontro que nasceu a proposta de reforma no sistema psiquiátrico brasileiro e foi estabelecido que aquela data fosse o dia da Luta Antimanicomial.
Principais pontos da reforma psiquiátrica no Brasil
Com o principal objetivo de acabar com os manicômios, a reforma psiquiátrica no Brasil tinha o intuito de substituir de forma progressiva o tratamento por serviços comunitários. Sendo assim, o paciente com problemas mentais seria estimulado a um exercício de cidadania, visando fortalecer os laços familiares e sociais e nunca se isolado, como antes era feito.
Com essa reforma, então, o Estado era proibido de construir hospitais de serviços psiquiátricos e, substituindo as internações, os pacientes passariam a ter acesso ao atendimento psicológico e atividades alternativas – são tratamentos bem menos invasivos.
Além disso, a família teria um papel imprescindível na recuperação do paciente.
Inclusive, o movimento da luta antimanicomial precisou conscientizar a sociedade que as pessoas portadoras de transtornos mentais não representavam uma ameaça.
Assim, era necessário compreender os problemas mentais não como um estigma, mas como um modo alternativo de enxergar e estar no mundo e que precisavam de atenção especial e não de punição.
Portanto, o respeito e a educação seriam os principais meios para revolucionar o modo como os pacientes eram tratados até então, dentro e também fora das instituições psiquiátricas.
É válido lembrar ainda que a reforma psiquiátrica no Brasil teve início nos anos 80, mas ainda hoje não foi complementada.
Ainda há muito o que se fazer
Apesar de todos os avanços através da luta antimanicomial, ainda há muito o que se fazer quando o assunto é a saúde mental. Infelizmente, o tabu em relação aos cuidados psiquiátricos ainda existem e pode haver resistência e estranhamento em relação aos tratamentos necessários.
Por isso, é muito importante que todos nós sejamos semeadores de afeto através da boa informação, elucidando conceitos e ajudando a quebrar os estigmas relacionados à saúde mental. Cuidar de si também é cuidar dos outros.
Contamos com você para isso, da mesma forma que você pode contar conosco!