Durante a pandemia da Covid-19, as crianças – especialmente, mas não apenas, aquelas mais vulneráveis – sofreram mudanças bruscas em sua rotina, sendo que em muitas situações tais mudanças não foram totalmente compreendidas por elas. Muitas delas ficaram ansiosas ou deprimidas, assim como ocorreu com os adultos.
Meninas e meninos passaram muito tempo longe da família, de amigos, das salas de aula, das brincadeiras – que são elementos-chave da infância. Segundo os últimos dados disponibilizados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), pelo menos uma em cada sete crianças no mundo foi profundamente afetada pelo distanciamento social (as quarentenas).
Além disso, em todo o mundo pelo menos 5 milhões de crianças perderam pelo menos um dos pais ou cuidadores, devido ao vírus. Para se ter uma comparação, demorou 10 anos para que 5 milhões de crianças ficassem órfãs em decorrência do vírus HIV e da Aids, enquanto o mesmo número de crianças ficou órfã pela Covid-19 em apenas dois anos.
É uma situação que impactou muito nossas crianças, e elas continuam a ser impactadas pelo retorno às atividades presenciais. O processo de aprendizado, a dificuldade de socialização, os traumas que ocorreram, tudo isto atingiu crianças, adolescentes e jovens de diferentes idades.
Riscos maiores para as crianças mais vulneráveis
No caso das crianças com necessidades especiais, em muitos casos elas regrediram em seu desenvolvimento sem as terapias e intervenções necessárias durante a pandemia. De forma geral, muitas crianças continuam sofrendo com as consequências do aprendizado remoto e das aulas perdidas.
No caso das crianças que perderam entes queridos, sabe-se que crianças órfãs têm um risco aumentado de pobreza, exploração, violência, abuso sexual, problemas em seu desenvolvimento cognitivo, desafios de saúde mental e sofrimentos em geral.
Em relação aos transtornos mentais que podem ser diagnosticados nas crianças – como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), a ansiedade, o transtorno bipolar, o transtorno de conduta, a depressão, os transtornos alimentares, a deficiência intelectual, a esquizofrenia – eles podem prejudicar significativamente a saúde, a educação e o desenvolvimento do organismo, no momento atual e no futuro.
Como lidar com o momento pós-traumático das crianças?
Os pais e cuidadores podem servir como um apoio contínuo para as crianças do seu entorno e da sua família, orientando-as a enxergar o momento atual como uma oportunidade de voltar à rotina de uma forma potencialmente melhor.
Compartilhar experiências é essencial para este momento pós-traumático. Mas para efetivamente discutir e processar as dificuldades, as crianças também precisam de técnicas para lidar com suas emoções, como a tristeza, a raiva e a ansiedade. Ensiná-las algumas técnicas para lidar com a ansiedade, por exemplo, pode ser uma boa solução para o dia a dia. Criar momentos de pausa ou de relaxamento, para que elas possam respirar fundo, pensar positivo, ou expressar algum sentimento incômodo, é importante.
Escutar as crianças, de forma genuína e profunda, é outra atividade fundamental para os pais. Aproveitar o momento para estreitar a relação com os filhos, expressando o quanto os adultos da família se importam com elas, e criar mais momentos de interação e conversa, deixando um pouco os aparatos tecnológicos de lado. Tudo isto ajuda – e muito!
O que pensamos que sabíamos sobre o mundo acabou sendo quebrado – e isto também aconteceu para as crianças. Elas precisam aprender com sua experiência individual a dar um novo significado para vários aspectos da vida. Parte do crescimento pós-traumático é descobrir um novo significado, e pode ser muito enriquecedor fazer esta reflexão conjuntamente, pais e filhos.
E, finalmente, entender se é o momento de procurar ajuda especializada para as crianças é outra ação imprescindível. Em geral, elas não conseguem identificar quando não estão bem. Então, precisamos fazer isto por elas – e pelo futuro delas!
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